domingo, maio 02, 2010

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Jacutinga reproduz em reserva
natural no Leste de Minas
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O desmatamento e a caça predatória reduziram drasticamente a população do animal na região
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Ana Lúcia Gonçalves -
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Seis filhotes foram vistos ao lado das jacutingas adultas na reserva natural
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IPABA - Jacutingas (Pipile jacutinga) adultas que foram soltas na Reserva Particular do Patrimônio Nacional (RPPN) Fazenda Macedônia, mantida pela Cenibra em Ipaba, no Leste do Estado, reproduziram após serem reintroduzidas na natureza. O fato é considerado inédito no Brasil pelo especialista em Meio Ambiente da Coordenação de Licenciamento Ambiental da empresa, Edson Valgas. Os monitores da reserva observaram seis filhotes acompanhando os animais adultos.
“Trata-se dos primeiros filhotes da espécie nascidos em vida livre na RPPN”, destaca o especialista. “Agora, podemos afirmar que o projeto está no caminho certo, ou seja, está contribuindo para retirar a jacutinga da lista de espécies ameaçadas de extinção”, acrescenta.
Os primeiros casais de jacutinga foram reintroduzidos nas matas da Fazenda Macedônia em 2003. Eram dez casais há cerca de sete anos. Atualmente, já foram contabilizados 17 devolvidos ao habitat natural. “Como alguns casais migraram para outras matas da região, acreditamos que o número de filhotes de jacutinga seja ainda maior”, avalia Valgas.
A jacutinga é uma ave da família dos cracídeos, mede cerca de 75 centímetros e alimenta-se de frutos e alguns invertebrados. Ela é natural da Mata Atlântica e podia ser vista, com frequência, nesse habitat até 1960. O desmatamento e a caça predatória reduziram drasticamente a população e, atualmente, a espécie é considerada criticamente em perigo de extinção em Minas Gerais e ameaçada de extinção em nível nacional. Em nível mundial, é mencionada na Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) como vulnerável.
Segundo o especialista em meio ambiente, a última observação de jacutingas no Leste de Minas Gerais ocorreu em 1981, no Parque Estadual do Rio Doce, que fica na divisa entre as cidades de Ipatinga, Timóteo e Marliéria. Isso confirma que a espécie ocorria na região, a sua extinção regional e que o projeto de reintrodução é a única alternativa para o repovoamento das matas com jacutingas. “Destaca-se que elas são aves dispersoras de sementes e que sua extinção pode desencadear a de diversas espécies vegetais”, afirma.
Ainda de acordo com Valgas, o registro da reprodução das espécies reintroduzidas por meio do Projeto de Reintrodução de Aves Silvestres Ameaçadas de Extinção (Projeto Mutum), desenvolvido pela Cenibra, demonstra que, tanto em cativeiro quanto no campo, a reintrodução de animais na natureza, o monitoramento e a manutenção de áreas protegidas são estratégias bem sucedidas para a conservação das espécies ameaçadas da fauna brasileira.
Para Paulo Dantas, coordenador de Licenciamento Ambiental da Cenibra, a RPPN Fazenda Macedônia é um exemplo da convivência harmônica da atividade produtiva e a conservação da biodiversidade. Segundo ele, os projetos de reflorestamento com ucalipto são implementados utilizando as mais modernas técnicas, visando obter a máxima produção de madeira, mantendo a capacidade produtiva do ambiente.
E os serviços ambientais oferecidos pelas áreas protegidas, tais como regularização da vazão dos cursos d’água; produção de água de boa qualidade; espaço para procriação da vida silvestre; limpeza da atmosfera por meio do sequestro do gás carbônico, dentre outros, são mantidos com os trabalhos realizados de recuperação, proteção, pesquisa, monitoramento e educação ambiental.
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Projeto Mutum já soltou várias espécies
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O Projeto Mutum é pioneiro e desenvolvido há 20 anos pela Cenibra na Fazenda Macedônia. O trabalho é realizado por meio de um acordo de cooperação técnico-científica entre a empresa e a Sociedade de Pesquisa do Manejo e da Reprodução da Fauna Silvestre (Crax), entidade não governamental sediada em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).
O projeto já possibilitou a soltura do mutum-do-sudeste, do macuco, da capoeira, do jaó, do inhambuaçu, do jacuaçu e da jacutinga.
“Na sede da Crax, é feito todo o trabalho de preparação das aves e manejo adequado, de forma a proporcionar mais facilidade de rea-daptação ao habitat natural. De lá, elas seguem para a Fazenda Macedônia, reconhecida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como RPPN”, explica Edson Valgas.
O país possui mais de 900 RPPNs, sendo 217 em Minas Gerais. Elas são consideradas espaços fundamentais para a realização de atividades de cunho científico, educacional e cultural.
Localizada à margem direita do Rio Doce, a Fazenda Macedônia conta com uma área total de aproximadamente 3 mil hectares, dos quais cerca de 50% estão cobertos com vegetação nativa. No restante da área são implementados projetos de reflorestamento com eucalipto.
A área de florestas nativas da Fazenda Macedônia, com cerca de 1.500 hectares, é um dos principais remanescentes de Mata Atlântica no Estado, e parte desta (560 hectares) é reconhecida pelo Ibama por meio da portaria 111, de 14 de outubro de 1994, como RPPN. O acordo de cooperação técnico-científica entre a Cenibra e a Crax foi firmado em 1990 e prevê a reintrodução de espécies silvestres ameaçadas de extinção em seu habitat natural.
“Trata-se de um trabalho inovador, tanto no Brasil quanto no exterior, já que contempla não só a proteção ou criação em cativeiro de animais ameaçados, mas também a sua recondução ao ambiente de origem”, explicou Valgas, contando que, com esse projeto, a Cenibra já recebeu, entre outros, o prêmio Minas Ecologia na categoria “Fauna”, concedido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e pela Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda ).
Com relação ao mutum-do-sudeste, o projeto já conta com a quarta geração de mutuns livres, reproduzidos na reserva desde os primeiros exemplares soltos, com anilhas, em 1991. Em 1995, ocorreu o nascimento do primeiro filhote de mutum-do-sudeste reintroduzido na natureza. Esse fato teve repercussão científica internacional, pois, até então, esta ave havia conseguido procriar em seu habitat, após ter sido reintroduzida pelo homem.
A iniciativa representa uma esperança de sobrevivência a essa ave típica da Mata Atlântica, abundante no período colonial do Sudeste do Brasil e que hoje está ameaçada de extinção.

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